Diário de Bordo - Sérgio

 

25/06/2006

Acordei as duas da manhã preocupado em ver os cabos de amarração. Peguei a lanterna e fui até a proa. Tudo estava em ordem. Voltei para dentro e dormi imediatamente. Quando acordei outra vez eram 9 horas da manhã. Dormi 16 horas! Acho que nunca dormi tanto e acordei com a sensação de estar mais descansado, só que com um pouco de dores musculares. O dia estava lindo! Fui dar uma olhadinha no cabo da poita outra vez e... o cabo principal estava arrebentado! Quem nos segurava era o sobressalente. Fui ver o que tinha acontecido e ele havia arrebentado por ficar roçando no próprio barco, logo abaixo da guia! Senti bater muito à noite, mas não imaginei que isso pudesse ocorrer. Santa prevenção e santo conselho do sargento Iran, senão seríamos mais um veleiro naufragado em Abrolhos, pois o vento nos jogava na direção das pedras. Pensei um pouco e resolvi acabar com o problema de vez: usei a corrente da âncora para nos prender à bóia. Ficou muito melhor, pois os trancos foram amortecidos pelo peso da corrente e nós ficamos muito mais seguros. Quando estávamos para descer na ilha de Santa Bárbara, o Egno nos perguntou se não poderíamos ver a ilha Siriba de manhã. Falamos que sim e inflei nosso botinho para irmos até lá. Quando chegamos, ele já estava com um grupo de mergulhadores do Rio que também fariam a visita. Após as instruções de praxe, fomos andando no meio de muitos ninhos de atobás brancos. Fui fotografando e apreciando a bela vista e as crianças se admiravam com cada detalhe do local. Passamos por grandes paredões de rochas magmáticas. Vimos alguns atobás mortos e os restos de um veleiro (aquele cujo cabo havia quebrado). Um frio desceu pela minha espinha. Os filhotes eram muitos e de vários tamanhos e idades. No meio deles, alguns atobás jovens, de penagem diferente, se destacavam. Vimos também grazinas, que fazem um barulho danado e as fragatas sempre sobrevoando os ninhos, prontas para atacar quem está com o peixe. Me lembram muito os políticos de hoje! O engraçado é que o atobá, sendo um pássaro muito forte e tão numeroso, não as ataca. O mesmo eu vi num documentário sobre os pingüins imperadores. Se eles se juntassem, seria fácil colocar seus predadores e parasitas para correr, mas não o fazem. Quando olho para nossa situação e nossos políticos, vejo que a coisa também não é tão fácil assim para nós! Demos a volta toda à ilha e vimos também poucos atobás marrons que nidificaram lá. O Egno disse que isso é a primeira vez que ele vê acontecer, pois normalmente eles não se juntam. Os marrons são mais ariscos e não gostam de visitas (um abandonou o ninho e dois ovos quando chegamos perto). Após a linda visita, fomos mergulhar ao lado do bote. Um rapaz do barco de mergulho veio falar conosco e por coincidência ele trabalha no navio que protege as águas de São Sebastião de vazamentos. Como é dive master e trabalha 28 dias embarcado e fica de folga 28 dias em terra, vem para Abrolhos de vez em quando para mergulhar e trabalhar. Ficamos de nos escrever por e-mail. A água estava um pouco mexida, mas mesmo assim a visibilidade era das melhores. Vimos cardumes enormes de cirurgiões azuis, vários frades e uma tartaruga bem de perto e muito mansa. Tirei algumas fotos submarinas e só voltamos ao bote logo porque o Jonas estava morrendo de frio (isso porque a água estava quente!). Pena que esquecemos de trazer sua blusa de neoprene. Retornamos com o bote ao Fandango e fizemos um lanche de bolachas e frutas para não perder tempo. Fomos, então, novamente à ilha de Santa Bárbara. As crianças chegaram e começaram a ver as rochas sedimentares que formavam um tipo de caverna e como eram moles. Elas se dissolviam na própria mão e até o vento as molda ao seu bel prazer.  O Flávio veio nos buscar na praia e nos levou até a sua casa. Lá conhecemos sua simpática esposa, Débora, e a Flavinha, que estava dormindo. Comemos um gostoso bolo e tomamos refrigerantes que ela nos serviu. Conversamos bastante sobre filhos e saímos para fotografar dentro e de cima do farol. Após as fotos, fomos até a outra ponta da ilha para conhecê-la. Andamos um quilômetro e chegamos num local repleto de ninhos de atobás, com várias fragatas sobrevoando-os. Lá havia uma cruz, para identificar o local. A vista é a mais bonita da ilha! Víamos o farol atrás de nós e o sol se pondo no horizonte. Simplesmente divino! Junte-se a isso o barulho das aves e um bando de cabras e bodes passando ao longe e aquele azul do mar incrível de Abrolhos dominando todo o horizonte e você não tem vontade de sair mais dali. Na ilha moram várias famílias de pessoas da Marinha e gente do Ibama. Ficam morando ali um período relativamente longo, cuidando da ilha, do parque e principalmente do maravilhoso farol, cuja conservação é um primor. Eles têm ótimas casas construídas pela Marinha e mantidas por eles e uma vista da varanda incrível, de onde vêem as baleias passar no inverno e as aves migratórias praticamente o ano todo. Após o pôr-do-sol retornamos para perto do farol e o Flávio nos levou para conhecer a estação de rádio. Lá eles têm internet também e aproveitei para enviar uma mensagem para meu irmão para avisar que chegamos bem em Abrolhos. Nos despedimos da bela família e retornamos ao Fandango com tudo escuro. Chegando lá, aproveitamos para ler um livro que eu havia trazido especialmente para a ocasião chamado “Luzes do Novo Mundo: História dos Faróis Brasileiros”. Abrindo o livro revi uma mensagem da amiga que nos deu o livro, a Simone de Floripa, que diz o seguinte: “Sérgio, que os faróis da nossa costa inspirem e marquem o rumo dos seus sonhos. Tenho certeza que depois deles, continuarão a fazer isto os faróis dos outros tantos cantos (ou costas) do mundo. Abração, Simone (maio/2002)”. Lemos o texto do farol de Abrolhos e a introdução do livro que fala da importância dos faróis, do qual quero ressaltar um trecho: “Quantos seres humanos deram parte da vida, seu suor, para construí-los nos locais de mais difícil acesso? Quantos viveram isolados, tão longe de tudo e de todos para fazê-los funcionar ininterruptamente, com apenas a própria consciência como testemunha do dever cumprido? Que força é essa que leva um homem a zelar por outros que nunca viu, nem verá, em um trabalho silencioso e incógnito?” As crianças gostaram tanto que continuaram lendo sobre outros faróis pelos quais passamos, mas não visitamos. Enquanto liam, eu fiz o jantar: risoto, ovos fritos (inclusive um que ganharam da “granja” do Flávio, que cria galinhas em seu quintal em Noronha – foi a primeira vez que eles comeram “ovo caipira” e justamente ovo de Abrolhos!) com salada de tomates e cenouras. Depois do jantar ficamos do lado de fora do barco um pouco vendo o céu todo estrelado e o lindo farol esparramando suas luzes pelas ilhas do arquipélago que nos contornavam. O frio não nos deixou ficar muito e então voltamos para dentro do barco onde comecei a fazer os diários dos últimos dias, forçando pela memória para não esquecer nada. O barco continuava balançando muito, mas a tripulação já está toda acostumada e após algumas horas de trabalho e leitura, cada um caiu em sua cama e adormeceu. Ainda dei um pulo na proa para ver se tudo estava bem com a amarração do barco e dormi deliciosamente cansado.

 

26/06/2006

Acordamos tarde e o programa para hoje é um mergulho em Abrolhos. O dia estava muito bonito e o vento havia virado mais para nordeste, nos deixando mais abrigados na poita em que estávamos. Só que antes da diversão, todos nós fizemos nossos diários e tomamos o café da manhã. Pegamos o botinho e fomos até uma poita pequena próxima ao desembarque da ilha de Sta Bárbara. Caímos na água e ela estava maravilhosamente transparente, só que um pouco fria. Logo começamos a ver muitos e muitos peixes. Vimos vários frades, três budiões azuis que deviam ter de 4 a 5 quilos cada um e dezenas de cardumes de muitos peixes coloridos! O Jonas sentiu frio e voltou para o bote. Eu e a Carol, após acompanhá-lo até o bote, voltamos e mergulhamos outro tanto. Foi um mergulho maravilhoso, digno de Abrolhos. Vimos também muitos corais diferentes e vegetação marinha também desconhecida para nós. Os grandes corais cérebro são o destaque no local. Vimos também um “mini-chapeirão”, que é uma estrutura coralínea que cresce em forma de cogumelo, vindo do fundo e que alcança grandes tamanhos (até 20 metros de altura e 50 de diâmetro!). Foi um belo mergulho e retornamos ao barco com fome. As crianças quiseram fazer o almoço e sugeriram um miojo. Como é rápido e todos estávamos com vontade dele, aceitei, incrementando-o com algumas coisas mais. Depois do almoço resolvemos fazer uma visita à ilha para acessar a previsão de tempo. Ela não está nada favorável para seguirmos viagem. Prevê vento na cara amanhã e vento favorável muito forte na quarta-feira. Teremos que ficar por aqui amanhã (e as crianças adoraram isso!) e verei se a previsão muda para quarta. Conversamos bastante com o sargento Iran, que passou experiências de vida muito importantes para as crianças. Muitas vezes, as crianças firmam mais um conceito se não forem os pais falando e acho que foi o caso, pois foi repetição de várias coisas que eu já havia falado, com exemplos vivos de outra pessoa. Também falamos bastante de Abrolhos e sobre os cuidados da Marinha com as pessoas que navegam por aqui. Se todos os navegantes seguirem as recomendações deles, informarem quando estão chegando, pedirem instruções para aproximação e pedirem previsões de tempo para eles, que são extremamente gentis para dá-las, tudo seria muito fácil e seguro como foi conosco. Não se pode brincar por aqui. Fomos convidados para ver o jogo do Brasil amanhã com eles já que não poderemos seguir viagem, o que aceitamos prontamente. Retornamos ao barco para arrumarmos algumas coisas e estudar. O Jonas “devorou” o livro de história e o acabou hoje (acho que puxou a tia nisso, que é professora de História). Fiz um risoto de carne seca com milho, que ficou ótimo e acabou rapidamente (e olha que era uma panelona!). Saímos um pouco da cabine e a Carol falou que nunca viu céu tão bonito. Após atualizar algumas coisas na cópia da página da internet no meu computador, lemos um pouco e dormimos cedo.

 

27/06/2006

Deixei as crianças dormirem bastante, pois hoje à noite poderemos fazer uma travessia até Cumuruxatiba. Assim que elas acordaram, tomamos nosso café e descemos na ilha de Santa Bárbara para assistir o jogo do Brasil com Gana. Demos uma carona com o bote para alguns pescadores que também iriam ver o jogo e subimos todos juntos para o local onde fica a sala de rádio. Uma grande televisão foi levada para lá e várias pessoas já estavam no local. Porque perto da sala de rádio? Para que todos pudessem assistir ao jogo sem parar o principal trabalho do Rádio-Farol Abrolhos, que é a orientação àqueles que passam pelo local. Com o rádio VHF portátil ao lado da televisão e os outros rádios próximos, lá estávamos todos nós torcendo para o Brasil! Com o ouvido nos rádios e os olhos na televisão, vimos como, com um gol logo de cara e um futebol fraquinho, o Brasil ganhou de 3 x 0. Mesmo assim todos vibramos muito. Ronaldo Fenômeno se tornou o maior artilheiro em copas com seu gol e jogou bem. Após o jogo, vi as previsões de tempo que não eram boas. Uma frente fria estaria entrando provavelmente no meio da noite e o nordeste ainda soprava forte. Dessa forma, não poderíamos passar de dia para o lado norte da ilha, que é abrigado de vento sul/sudoeste. Eu estava prevenido e já havia feito a navegação para todas as possíveis rotas necessárias e colocado-as no GPS. Dessa forma, despedimo-nos dos amigos feitos na ilha e voltamos ao barco para aproveitar o final da tarde para mergulhar. Pegamos o material de mergulho e nos dirigimos à enseada do meio da Ilha de Santa Bárbara ao sul. O Jonas quis ficar no bote, pois estava com muito frio. Começamos a mergulhar com água um pouco turva e local fundo, mas depois tudo mudou: a água clareou muito, muitos peixes começaram a aparecer, no que se tornou um dos melhores mergulhos da minha vida. Um banco de corais com, no máximo, três metros de profundidade e água muito clara, fazia fundo para budiões azuis enormes que passavam embaixo de nós. Havia muitos frades adultos e jovens no local, além de outros muitos peixes coloridos. Logo a Carol, que andava com o braço passado no meu, deu um grito: uma linda tartaruga passava na nossa frente. Fomos até ela e ela não se assustou, quase permitindo-nos tocá-la. De repente aparece outra tartaruga menor, mas assustada. Fomos mais um pouco para o fundo da enseada e encontramos mais uma tartaruga, um pouco maior que as outras, que permitiu que nos aproximássemos bastante e passássemos a mão em seu casco! Passamos diversas vezes e ela não se afastava de nós. Resolvemos chamar o Jonas. Voltamos ao bote e fomos puxando-o enquanto o Jonas se equipava. Quando chegamos no local novamente, o Jonas pulou na água. Logo a Carol viu uma bicuda de quase um quilo na tona. Pouco mais à frente, vimos uma barracuda de um quilo ou dois. Isso foi o suficiente para o Jonas voltar ao bote e ficar olhando com a cara dentro da água e o corpo dentro do bote! Logo apareceu mais uma, duas, três, até que havia umas vinte barracudas ao nosso redor. A maior não passava de três quilos. A Carol, apesar de estar com um pouco de medo, continuou grudada comigo dentro da água. Chegávamos perto delas e elas nos observavam. O Jonas viu na costa, bem na frente de onde mergulhávamos, o que seria a maior parte dos restos do veleiro argentino que nos contaram ter naufragado no local, após uma frente fria ter entrado e ele não ter mudado para o outro lado da ilha. Deu-me um frio na barriga! Resolvemos continuar o mergulho e logo adiante achamos mais tartarugas. O Jonas voltou para a água e quase passou a mão em uma. Mais à frente, outro grito da Carol: um baiacu enorme, como eu não vi até hoje, nadava tranqüilamente à nossa frente. Observamo-lo um pouco e seguimos em frente. Outra surpresa, outro grito: uma enorme raia-prego se encontrava num buraco de areia no meio dos corais. Linda, ela levitou suavemente e foi se afastando de nós, com a Carol em sua perseguição. Nadamos mais um pouco paralelamente ao Fandango e, quando a fauna rareou, subimos no bote, pois já estávamos com frio. Foi um mergulho fantástico! Não precisei descer nem uma vez para ver tudo isso. Tudo foi visto da tona e o mergulho não durou uma hora! O incrível também é que quem viu primeiro praticamente todos os peixes foi a Carol. Que olho! No barco nos secamos, colocamos uma roupa mais quente e começamos a arrumar as coisas para a travessia. Pouco depois, o Egno apareceu com o bote e nos deu um pote com ovos que o Flávio havia mandado para nós. Quanta gentileza! Quando anoiteceu, fiz o jantar e acabamos de arrumar e verificar tudo. Com tudo arrumado, demos um pulo fora da cabine e vimos, no escuro da noite, os muitos relâmpagos da frente fria que subia e estava se aproximando. Eram oito horas da noite e deitei para dormir, para estar descansado quando a frente chegasse. Coloquei o relógio para despertar de hora em hora, para ver o andamento da frente. Se a frente entrasse até as 10 horas da noite, iríamos direto para Porto Seguro, para chegar lá de dia, no final da tarde do dia seguinte. Se entrasse depois disso, iríamos para Cumuruxatiba, chegando lá na manhã seguinte. As crianças ficaram lendo e brincando. Cada vez que eu acordava, via as nuvens mais próximas e mais altas, toda vez que caia um relâmpago.

 

28/06/2006

Quando acordei as três da manhã, vi as luzes do farol entrando pela gaiuta principal, significando que estávamos girando em direção ao sul. Rapidamente me levantei, chamei a tripulação e comecei a arrumar tudo para sairmos. O vento começava a apertar um pouco e logo soltamos as amarras da poita. Quando começamos a nos afastar dela, quando eu colocava o piloto automático, o GPS perdeu o sinal. Fiz meia volta, fomos fazendo uma curva nos locais que eu sabia serem seguros, usando como referência as luzes do farol e do barco de pesca “Rose e Amanda”, que estava ancorado ao nosso lado. Liguei e desliguei o GPS umas dez vezes, tentando fazê-lo funcionar. Quando estávamos próximos ao farol, ele pegava o sinal. Quando nos afastávamos duzentos metros, perdia de novo, provavelmente por causa das nuvens carregadas. Pedi ao Jonas para pegar o GPS reserva e ele não o encontrou. Logo começou a chover torrencialmente e a visibilidade, que já não era muito boa, ficou pior. Eu poderia seguir somente com a bússola fazendo a navegação estimada, mas se houvesse uma correnteza forte (quando mergulhamos, havia um pouco de correnteza fora do banco de corais), poderíamos ser desviados e lançados a alguma das ilhas. Optei pela segurança: ficamos dando voltas na frente do farol lentamente, esperando pelo amanhecer e conseqüente visão das ilhas. Já disseram que o maior perigo para um barco é terra. Isso é verdade. Se estivesse livre, bastaria correr com o tempo com as velas reduzidas, como já fizemos várias vezes com o vento que estava previsto, com muita segurança e até algum conforto quando ele é favorável. Tudo ocorreu perfeitamente e ficamos até quase cinco horas da manhã dando voltas, com o vento e a chuva indo e voltando. Perto das cinco, o vento começou a apertar demais e o mar começou a ficar muito grosso rapidamente. O Flávio chamou pelo rádio e avisou que as rajadas estavam chegando a 27 nós. Comecei a pensar na minha terceira possibilidade, que seria dar a volta pelo norte e parar atrás do outro lado da ilha, abrigado do vento, sem seguir viagem no momento, o que ainda nos livraria do risco de choques com baleias e navegar com pouca visibilidade. Como eu já havia passado por lá no dia em que chegamos, não seria tão difícil. Mas o que adorei mesmo, foi ver as luzes de navegação do “Rose e Amanda” se acendendo. O Jonas falou com eles pelo rádio e eles confirmaram que iriam para o outro lado da ilha. Aproveitei a “carona” e o grande conhecimento do local dos pescadores (navegam “de olhos fechados”!) e seguimos o pesqueiro. Chegando lá, eles pegaram a poita da Marinha e mandei o Jonas perguntar pelo rádio se eles não se importavam se nós ficássemos amarrados a eles, pois seria muito mais fácil e seguro para nós do que tentar lançar âncora. Disseram que não e, muito gentis, nos passaram um cabo. A mudança foi da água para o vinho: o vento diminuiu muito e as ondas também! Faltava pouco para amanhecer e podermos seguir viagem, mas o abrigo da ilha e o vento e ondas roncando lá fora, falaram mais forte: resolvi ficar. Tirei as roupas molhadas, sequei um pouco o barco molhado pela chuva de vento quando pegamos o vento em popa, e fui deitar embaixo de um gostoso cobertor aguardando a melhora do tempo em segurança. Quando fui olhar, o GPS havia voltado a funcionar perfeitamente (acho que não era para termos seguido viagem mesmo!). Quando acordei às sete horas, havia quatro pesqueiros ao nosso lado, se protegendo da frente. Agradeci o “Rose e Amanda” e voltei a dormir. Algum tempo depois eles falaram que iriam soltar da poita e ir mais para perto da praia. Eu já estava torcendo para que alguém não houvesse tirado o cabo auxiliar que eu havia deixado lá, quando eles me disseram que iriam deixar o cabo de amarração deles lá, para ficar mais fácil para nós. Que gentileza! Não sei o nome dos pescadores e do comandante do barco, mas desde já, nosso muito obrigado. Às nove e meia peguei uma previsão de tempo que falava de ventos ainda fortes e ressaca na costa. Pelo jeito, vamos ficar mais um dia no mínimo por aqui, balançando um pouco, para não termos problemas quando chegarmos na costa. Pensei bem e o melhor é ir direto para Porto Seguro, por ser uma barra mais protegida. Tomamos um café, achei o GPS reserva, o Jonas lançou nele os way-point’s e aproveitamos para fazer nossos diários. Vocês vão perguntar: e a Carol? Podem não acreditar, mas a Carol ficou dormindo todo esse tempo, só levantando para ajudar a pegar o cabo de poita que o pesqueiro deixou para nós, retornando para a cama e “capotando” novamente. Acordou, finalmente, já era mais de meio-dia. As crianças quiseram fazer o almoço, cujo ingrediente principal foram os ovos presenteados pelo Flávio, mas não deixei e eu mesmo o fiz, por medo de acidentes. Escutamos pelo rádio várias mensagens de alerta de ressaca na região em que estávamos. Como o vento fortíssimo e o balanço do barco não nos deixavam fazer grandes coisas, passamos a tarde toda lendo o livro “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway. As crianças estão adorando e curtindo cada passagem do livro. No final da tarde, aprendida a lição do sargento Iran, colocamos um cabo a mais para segurar o barco à poita. O Jonas, como sempre, foi perfeito na manobra do motor, enquanto eu e a Carol colocávamos o cabo. À noite fizemos uma sopa, as crianças estudaram e lemos mais um pouco, quase acabando o livro. Com o balanço, tudo fica difícil de ser feito. Cozinhar e lavar a louça acabam sendo aventuras a bordo.

 

29/06/2006

Acordei de madrugada e vi o céu estrelado: bom sinal. Quando amanheceu, acordei novamente e vi que o vento já havia enfraquecido bastante e mudado um pouco de direção para sul. Logo os pesqueiros começaram a se mexer e pouco depois das sete, dois deles já saiam para a faina diária. Devolvi o cabo de atracação ao “Rose e Amanda” e agradeci a atenção dispensada. Resolvi fazer panquecas para acordar a tripulação cedo. Dito e feito! A reação à frase “Quem quer panquecas?” foi imediata e os dois pularam da cama logo, com a Carol chegando primeiro na panqueca que já estava pronta. Peguei a previsão de tempo e ela falava de ressaca na região para onde iríamos. Pedi ao Flávio que perguntasse como estava a barra de Porto Seguro para a Capitania de lá. Muito atencioso, eles ligou para a Capitania e responderam que a coisa lá estava feia. Resolvi ficar mais um dia e esperar a previsão de amanhã. Pedi que ligassem para meu irmão e avisassem do meu atraso em função do tempo. Para dizer a verdade, é um privilégio nós ficarmos “presos” neste paraíso. Pouco depois, me passaram um rádio do pesqueiro Janaína e conversamos bastante. Eles ofereceram peixe e nós aceitamos com muito prazer. Fui com a geladeira lá e bati um papo ótimo com eles. O mestre do pesqueiro, Martinho, tem um filho de cinco anos chamado Elias e não vê a hora de trazê-lo para conhecer Abrolhos. Ele nos deu gelo e belos peixes (dá para comermos uns três dias!), ainda por cima limpos. Conversamos um pouco, voltei ao barco e vimos uma série de fotos de grandes peixes que ele pescou e mandou para mostrar às crianças. Temperei o peixe e tomamos um banho de mar. Arrumei algumas coisinhas a bordo e, quando saí para o cockpit pensei: “Bem que podia ter uma baleiazinha por aí”. Olhei para o lado da ilha da Guarita e vi um jorro típico de baleia perto. Chamei as crianças e ficamos olhando para ver se ela aparecia novamente. Pouco depois ela levantou a uns 500 metros do barco. Soltamos rapidamente o Fandango da poita e fomos ao encontro dela. Chegamos devagarzinho, procurando o lugar onde a tínhamos visto pela última vez. Logo ela se levantou a uns dez metros do barco, bem na proa! Guinei o barco e ficamos paralelos a ela, com o motor em baixa rotação. Ficamos parados assim um tempo e aí ela resolveu nos observar. Voltou-se na nossa direção e mergulhou. Esperamos e ela apareceu na popa, indo para oeste, paralela à ilha. Fomos atrás até que ela chegou numa região aonde eu sabia ter uma laje. Parei o barco e a observamos a uns 50 metros. Ela foi se afastando muito devagar. Ficamos olhando-a cerca de meia hora e chegamos bem perto mesmo. As crianças adoraram e se impressionaram muito e eu cumpri um dos meus sonhos da viagem de 2002: mostrar esse magnífico mamífero de perto aos meus filhos. Talvez ainda vejamos muitas baleias, talvez não, mas esta com certeza ficará na memória deles para sempre como a primeira, tão de perto e tão mansa ao nosso lado. Quem está no mar deve sempre obedecer aos desígnios da natureza. Isso faz com que às vezes nos sintamos frustrados em planos ou cronogramas que não se cumprem. Mas é só esperar um pouco e aí vem o grande prêmio (no caso da baleia, grande mesmo! – risos). Basta cada um de nós viver cada dia como ele se apresenta e deixar as frustrações de lado. A vida é muito bela. Basta olhar para fora de nós mesmos e vivê-la. Depois da baleia, fizemos nosso almoço com o delicioso peixe que ganhamos: peixe frito, risoto de ervas e salada de tomate! Foi um dos melhores peixes que comi! Outros tão bons só lembro dois: um badejo frito com arroz, feijão e salada comido em cima das pedras no Saco do Sombrio em Castelhanos, depois de 4 dias mergulhando com o Topete e comendo apenas sanduíches, com o amigo Marcão e pescadores do lugar e outro com o Márcio no Taata, um delicioso badejo em papilote que cacei na ilha das Couves, feito pelo Márcio com temperos sofisticadíssimos, quando ficamos 15 dias velejando e mergulhando em Ubatuba, Ilha Grande e Parati! Os restaurantes que me desculpem, mas comer peixe no mar é fundamental! No final do dia estudamos, atualizei os diários e acabamos, emocionados, de ler o livro “O Velho e o Mar”. Se o mar deixar, amanhã seguiremos para Porto Seguro. Senão, ainda há muitas coisas belas e várias surpresas diárias neste paraíso! Pouco antes de dormimos, o sargento Iran falou comigo pelo rádio me avisando que a última previsão de tempo recebida dizia que o vento iria virar para nordeste em qualquer momento das próximas 24 horas. Como onde estávamos era desabrigado do nordeste, coloquei o relógio para despertar de hora em hora para verificar o vento, a partir da meia-noite.

 

30/06/2006

Acordei várias vezes de madrugada e o vento se manteve de sul-sudeste, direção boa para seguirmos para Porto Seguro. Só que o horário bom para sairmos para Porto Seguro seria a partir do meio-dia. Fiquei com medo do vento virar para nordeste antes disso e tivéssemos que esperar outra frente fria. Dessa forma, revisei os planos e decidi seguir o roteiro original e conhecer Cumuruxatiba, pois poderia sair ao amanhecer e chegar lá ainda de dia. Assim que o dia clareou, eu já estava com tudo organizado para sair. Chamei as crianças, avisei o Rádio-Farol que estávamos saindo, deixando um abraço para os amigos de lá, e às 6 horas soltávamos a poita. Fomos navegando, deixando aquele paraíso para trás, e cruzamos com vários pesqueiros, inclusive o do Martinho. Falamos pelo rádio rapidamente e demos “até breve”. Vimos uma baleia ao longe. Fomos navegando com cuidado, de olho na superfície do mar. O vento estava ótimo e a primeira perna foi de través para alheta delicioso. Andávamos numa média de seis nós. Quando chegamos no primeiro way-point, viramos o barco e o vento ficou em popa. A média de velocidade caiu para cinco nós e tudo balançava por causa das ondas que queriam girar o barco. A mestra e a genoa batiam toda hora. Navegamos velejando por seis horas, até que avistamos uma baleia perto. Ligamos o motor, tentamos nos aproximar, mas ela se afastava em direção aos recifes Timbebas. Não fomos muito tempo atrás dela e a visualizamos a cinqüenta metros. Retornei ao rumo e, como o vento havia enfraquecido e poderia atrasar a viagem e fazer-nos entrar na barra à noite, continuamos com motor e vela. Deixei as crianças olhando, com o Alfredo levando o barco o tempo todo e fui descansar um pouco da noite mal dormida. Quando nos aproximamos um pouco mais, começamos a ver terra. É engraçado para nós visualizarmos o litoral sem a serra do mar por trás. O que víamos era um litoral bem baixo e uma montanha parecendo um vulcão ao fundo. Várias nuvens de chuva nos circundavam, com certeza com seus pirajás embaixo, mas não passaram por nós. Quando nos aproximamos mais, chamaram-nos pelo rádio. Era o Cigano, que o Martinho já havia me falado para não deixar de conhecer. A Capitania de Porto Seguro entrou em contato com ele e pediu que nos orientasse na entrada da barra. Ele nos passou os way-point’s e seguimos para eles. Fomos nos aproximando dos recifes, todos submersos pela maré alta e só tínhamos como referência os instrumentos e um pequeno farol na entrada da barra. Em volta as ondas quebravam bastante e fui entrando com cuidado. Dentro da barra ele nos orientou a ancorar ao lado da ponta de um píer destruído (só havia as vigas de sustentação) e lá soltamos nossa âncora, dando bastante cabo, pois o local, apesar de ser protegido de mar pelos recifes, é totalmente desabrigado de ventos. Deixei na proa uma grande âncora bruce que temos, para descer caso o vento aperte à noite. Quase a desci, mas como é muito pesada para levantar e eu tenho um alarme de vento forte no barco (a adriça da genoa bate feito louca quando o vento aperta), deixei apenas pronta. Era final de tarde e o sol já havia descido no horizonte baixo do local. Ao nosso lado passou uma linda canoa à vela, com sua vela bem amarela. O que vimos do barco de Cumuruxatiba agradou muito e amanhã iremos conhecer melhor o local. Liguei para o Cigano para pedir que ligasse para a Capitania avisando da nossa chegada, pois não há sinal de celular na região. Pedi algumas dicas e ele, muito atencioso informou que a cidade tem farmácia, mercado e, principalmente SORVETERIA! As crianças (as três! - rsrsrs) adoraram. Cigano também nos falou que amanhã o Brasil vai jogar com a França e que a Argentina já foi embora (Guido, agora você vai ter que torcer pelo Brasil!). Ficamos de descer no dia seguinte de manhã, pois tínhamos muitas coisas para fazer no barco. Enquanto todos trabalhavam coloquei um peixe do Martinho para assar. Comemos e, após estudos e diários, fomos dormir cansados.

 

01/07/2006

Acordamos bem cedo para poder aproveitar bem o dia. As crianças fizeram os seus diários e tomamos um café rápido. A excitação de descer em terra e conhecer Cumuruxatiba era grande. Pegamos o botinho e fomos direto para o local indicado pelo Cigano, a Aquamar, empresa especializada em turismo náutico ecológico. Chegamos na praia na frente da linda sede e descemos. Ele já nos esperava na praia e logo nos levava para ver lindas fotos de baleias e dos lindos locais próximos. Pelas fotos descobrimos que a montanha que parecia um vulcão vista ontem, era justamente o histórico Monte Pascoal, primeiro local a costa brasileira a ser avistada por Cabral! Eu esperava encontrá-lo mais ao norte, mas é muito visível chegando do sul também. As crianças compreenderam perfeitamente porque foi o primeiro lugar a ser avistado, muito antes da costa baixa da Bahia. Segunda-feira a Aquamar começará a fazer os passeios para visualização de baleias e o Cigano nos disse que elas passam muito perto dali. Ele também nos orientou quanto à vila, que faz parte do município de Prado, dizendo ser local muito seguro e ótimo de passear a pé. Logo saímos para o centro da vila e encontramos vários pequenos comércios, alguns misturando vários tipos de produtos (como um “mercado-loja de materiais de construção” que vimos). Paramos numa padaria para comer pãezinhos e tomar café e sorvetes. Pouco depois chegamos numa ponte e lá embaixo estava uma lavadeira, lavando sua roupa na beira do rio. Cumuruxatiba é uma típica vila baiana à beira-mar, cercada de falésias e aberta para o mar. A calma e tranqüilidade no local são contagiantes. Cigano disse que na temporada de férias recebem muitos turistas e, pela quantidade de pousadas no local, devem ser muitos mesmo. Resolvemos ir até as falésias e, para isso, fomos caminhando pela praia em direção ao sul. A maré estava baixa e descobria muitas pedras grandes e pequenas, cheias de ostras. Fomos chegando nas falésias e adoramos o local. Muito lindo, com o mar maravilhoso em sua frente, protegido por recifes. Vimos pescadores com redes espalhadas no local recolhendo seu pescado. Pedimos para vê-lo e o rapaz que carregava o peixe mostrou dois robalinhos e, para nossa tristeza, a carne de uma pequena tartaruga. O pescador disse que ela se enroscou na rede e morreu afogada. Vimos a cabeça e uma nadadeira, com a carne pendurada nelas. O Jonas começou a ficar nervoso, mas eu lhe expliquei que agora não havia mais jeito de saber se ela estava viva ou não. Subimos uma das falésias e a vista lá de cima é maravilhosa. Encontramos um restaurante chamado Catamarã e pedimos para tirar fotos de lá. Simpáticos, os donos, Rui e Elizete autorizaram e logo estávamos conversando com eles sobre os lugares bonitos em volta. A Carolina descobriu filhotes de pit-bull que eles tinham e logo estava brincando com eles. Retornamos para Cumuruxatiba andando e, na chegada, bateu a fome. Fomos para um restaurante de comida caseira e, enquanto saboreávamos um ótimo feijão com arroz, com frango, carne e peixe, assistíamos ao jogo de Portugal e o vímos se classificar. Pensamos: “Oba, vai ter um Brasil contra Portugal!”. Fomos a um mercado e compramos algumas poucas coisas que faltavam. Quando retornamos para a Aquamar, levei as compras no barco rapidamente e acendi a luz de tope para facilitar nosso retorno depois, já noite. Na ida, reparei que havia uma rede no caminho, quase me enroscando. Marquei bem a posição dela e os barcos perto, para desviar dela na volta. Assistimos à humilhante derrota do futebolzinho preguiçoso e sem vontade da milionária seleção do Parreira para a França e, desanimados, pegamos o bote para voltar ao barco. Estava ventando um pouco e também frio. Fui até o barco que eu havia marcado para safar a rede e depois pegamos o caminho direto do Fandango. No meio do caminho... atropelamos uma rede! A danada da rede deve estar solta ou havia outra no local. O hélice do motor enganchou feio na rede e levei um bom tempo para arrebentá-la com a mão, pois não tinha faca. É incrível como eles soltam redes no meio do local de navegação dos próprios barcos! Muita linha ficou presa no hélice e não consegui soltar. Pegamos os remos e seguimos para o Fandango, com o vento contra e uma correnteza lateral, os dois nos empurrando de volta para a praia. Após um bom tempo remando com força (o Jonas vai voltar bem mais musculoso para a Ilha), chegamos no Fandango. A única coisa boa nisso tudo é que passou o frio com as remadas! Nos secamos e para esquecer de redes e futebol, começamos a ler “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, de Jorge Amado. Fui lendo e, envolvidos, acabamos a leitura do livro na mesma noite, mesmo fazendo um monte de comentários sobre os locais pelos quais provavelmente iremos passar e falando da “moral” do livro. Talvez esse seja o livro mais curto e o que eu mais gosto de Jorge Amado. Encerrado o livro, dormimos sob as luzes de um céu muito estrelado e ao balanço do mar baiano.

 

02/07/2006

Acordei de madrugada e não consegui mais dormir. Aproveitei para fazer meu diário e arrumar o motor de popa. Foi só desmontar o hélice e soltar as linhas da rede dele. Nem o pino quebrou. Arrumei as compras que fizemos ontem e fiz uma série de coisinhas no barco. Chamei as crianças às 7:30 hs e logo tomamos nosso café. Após elas fazerem seus diários, fomos para a praia. Desta vez levei as ferramentas do motor e um canivete na mochila. Chegando na praia, enquanto eu conversava com o Cigano, as crianças foram passear com a Taís (esposa do Cigano) e suas filhas Janaína e Marina. Após um tempo de conversa boa, fui procurá-los e eles estavam na frente do barco, brincando na praia. Entramos no mar, as crianças fizeram castelos de areia e voltamos para a Aquamar para almoçar. No caminho as crianças perguntaram para a Taís sobre o que é ser biólogo marinho e ela respondeu suas perguntas. Conversando com o Cigano e a Taís, vi que eles têm um excelente e bem montado turismo ecológico no local, com toda a preocupação com segurança, cujo carro-chefe é a visualização de baleias de julho a novembro. Como muita gente me perguntou se veríamos baleias, fica a dica para quem quiser que fazer um programa desses é muito fácil: avião até Porto Seguro mais três horas de carro até Cumuruxatiba. As baleias passam muito perto do local e a parte náutica é extremamente fácil, a cargo da Aquamar. O site deles é www.aquamarba.com.br, o e-mail é aquamarba@hotmail.com e o telefone é (73) 3573-1360. Vale lembrar que as baleias são só uma das atrações de Cumuruxatiba. Fomos então comer a famosa feijoada no Catamarã. Infelizmente o Cigano não pode vir, pois todos estavam fazendo manutenção nos barcos (em pleno domingo!) e o chefe não podia deixar os funcionários sozinhos e cair fora, dando o mau exemplo. Chegamos lá, pedimos as feijoadas e, enquanto esperávamos, as crianças brincavam nos balanços e eu batia fotos. A feijoada é ótima (o Jonas aprovou!) e matamos a vontade de feijão (com um certo exagero de todas as partes!). Conversando durante o almoço, fomos descobrindo alguns conhecidos em comum e entre eles, o Eduardo Meurer da Don Silvano. Depois disso a Tais nos levou numa lindíssima praia na foz do rio Japará. As crianças brincaram no rio e descobriram que as pedras do local (decomposição das falésias) se desmanchavam soltando uma tinta solúvel em água de várias cores. Ficaram brincando de se pintar um bom tempo. As falésias da região são lindas. Talvez um pouco mais altas que as de Cumuruxatiba e muito coloridas. Voltamos então para a cidade, dando uma parada para comer um “geladinho” na casa de uma amiga da Taís. Retornamos para o barco no final da tarde (para não enroscarmos na rede novamente) e nos despedimos das meninas. Só não conseguimos encontrar o Cigano, mas deixamos um abraço e o agradecimento por toda a atenção para nós dispensada. São uma linda família e torcemos para poder encontrá-los novamente. No barco, aproveitamos para arrumá-lo para seguir para Porto Seguro amanhã e lemos um pouco. Jantar? Nem pensar!

 

03/07/2006

Acordei as 5:15 hs e logo já estávamos com tudo arrumado para sair. Chamei as crianças para auxiliar na saída da barra. Levantei âncora enquanto o Jonas manobrava o barco e saímos as seis de Cumuruxatiba. O lugar vai deixar saudades! Logo desligamos o motor e aproveitamos o bom vento da manhã. Contornamos os recifes Itacolomis com cuidado e fui aproveitando o vento favorável que se apresentava. O dia estava bonito, mas algumas nuvens pesadas com chuva se encontravam à nossa frente. A Carol viu um jorro de baleia a uns trezentos metros e, alguns minutos depois, o Jonas viu uma grande jubarte dar um salto de costas tradicional da espécie. Também vimos por duas vezes golfinhos tímidos passarem ao lado do barco, muito rapidamente. O vento parou momentaneamente quando chegamos ao lado de uma grande nuvem de chuva e logo mudou de direção. São os pirajás. Andamos com o vento dessa nuvem por um bom tempo e depois chegamos perto de outra nuvem. Novamente o vento girou e continuou nos levando muito bem para Porto Seguro. Nas manobras do gira-gira, o fio de segurança dos meus óculos se enroscaram em algo e senti-os saírem voando, arrancados do meu pescoço. Mais um par de óculos perdido! Ainda bem que tenho um reserva no barco. Quando faltavam apenas 10 milhas para chegarmos, o vento parou de vez e ligamos o motor. Cumprimos as últimas duas horas de travessia tranqüilamente, curtindo o lindo litoral de Porto Seguro e região, com suas barreiras vermelhas tão características. Na chegada, a Marinha já estava nos esperando e logo vieram com a embarcação do Hotel Marina Quinta do Porto para nos receber na barra. Nos guiaram barra adentro e paramos no píer municipal, pois a maré estava muito baixa para chegar na marina. Eram 16:00 hs e a travessia havia sido muito boa. Conversamos com o Capitão-Tenente André Gomes, do qual ganhamos presentes, que se colocou a disposição para qualquer problema que tivéssemos. Com o barco amarrado e Porto Seguro ao lado, logo descemos do barco e fomos conhecer um pouco da cidade. Vimos umas barraquinhas ao longo de uma rua e logo estávamos comendo um acarajé (o primeiro das crianças). Ficaram contentes de experimentar uma das coisas gostosas que viram nos livros de Jorge Amado e do Cabinho. Enquanto estávamos comendo, vimos umas pessoas subirem no Fandango. Dei uma corrida lá e encontrei três moças batendo foto em cima do barco. Acabei dando uma de fotógrafo e batendo uma foto das três na proa. Anoiteceu e voltamos para o barco, aguardando o Japonês, funcionário da marina, vir nos buscar. Ele já havia nos falado que o Dadi e a Denise do trawler Jade estavam lá e estávamos ansiosos por reencontrá-los. Mudei os cabos de atracação para ficar mais fácil soltar o barco, passando-os por seno no píer. Acho que deixei a ponta muito curta do cabo da frente e pouco depois o barco se soltava. Saímos rapidamente e arrumamos o problema com a ajuda de uma pessoa que estava no píer. Conversamos um pouco com ele e logo saímos para a marina. Chegando lá, amarramos o barco na vaga vizinha ao Jade e logo estávamos abraçando o Dadi e a Denise. Depois de um bom papo, conhecemos também o simpático Sérgio, dono da marina, que também se colocou à nossa disposição. O lugar parece ser maravilhoso e é o único apoio náutico da região. Sentimos o povo muito simpático e gentil. O lugar muito belo, nos lembrou muito Ilhabela à noite, quando íamos para a marina, quase raspando nos recifes. Tentei colocar a página da internet no ar e ligar para a Lu por Skype, mas a conexão não funcionou. Vai ter que ficar para amanhã.

 

04/07/2006

Dormimos muito bem. Aliás, nos últimos dez dias, foi o único dia que dormimos com o barco sem se mexer. Acordamos cedo, fiz panquecas para o café da manhã e fui dar entrada do barco na marina. Andamos um pouco por ela e é lindíssima, além dos funcionários serem muito atenciosos e educados. Na volta ao Fandango, vi o dono do Scorpion, um Tropic 1200 que estava na marina e tinham me dito que era do litoral norte de São Paulo e fui falar com o dono, que estava no cockpit. Ele veio a nós e logo lhe reconheci as feições: era o Carlos, dono da Give Way de Ubatuba, que conheço há uns dezessete anos! Que coincidência! Ainda mais que foi num papo com ele em Ubatuba que eu e a Mônica começamos a sonhar com mais força numa mudança para o litoral. Na época ele tinha saído de São Paulo para montar a empresa e nós tínhamos o Topete. Lembro perfeitamente da nossa conversa, com ele nos falando como conseguia conviver bastante e bem com os filhos, ir almoçar em casa, fazer a “sesta” e voltar para o trabalho rapidamente. Ele nos mostrou a qualidade de vida que buscávamos e era um exemplo vivo do que queríamos. Não é muita coincidência encontrá-lo em Porto Seguro viajando de barco depois de tantos anos? Alguns dizem que coincidências não existem. Pode ser. Após darmos uma arrumada no barco, o Tate Parracho, o amigo que nos ajudou a amarrar o Fandango ontem quando ele se soltou do píer, ligou convidando para fazermos um passeio com ele. Fomos para Porto Seguro com o barco da marina e logo o Tate nos pegava para o passeio. Nos levou ao lindo centro histórico de Porto Seguro, onde vimos um museu sobre o local e sobre os índios e uma linda igreja do século XVI. Lá também fica o farol da Marinha, que guia a entrada de Porto Seguro e o marco de posse da terra, deixado pelos portugueses na sua chegada. Depois seguimos para Cabrália e no caminho paramos na Coroa Vermelha, onde foi realizada a primeira missa no Brasil. O lugar é belíssimo e fico imaginando a emoção de uma primeira missa realizada em terra naquele local. Em Cabrália fomos no centro histórico, que também é muito bonito e tem uma bela vista. O lugar todo cheira a história! Dá a impressão que a qualquer momento veremos uma caravela chegando junto aos recifes e ancorando. Fomos até a casa do pai do Tate, um senhor simpaticíssimo e com o qual conversamos um pouco. Com a casa cheia de amigos, ele me pareceu ser o próprio baiano “boa-praça”, com a porta de casa aberta para todos. Retornamos para Porto e aproveitei para mandar fazer outro par de óculos. Voltamos para a marina, onde tomamos um maravilhoso banho de água quente, doce e abundante no banheiro de um quarto do hotel, que arrumaram para nós. Como foi bom, depois de tanto tempo tomando banho de mar (não que eu desgoste de banhos de mar)! À noite fomos para Porto Seguro novamente com o Tate e andamos pela “Passarela do Álcool”, nome da rua cheia de barraquinhas onde quase todo mundo vai passear quando escurece. Ele levou a filha, Renata, que tem doze anos. Conversamos bastante e marcamos um passeio para amanhã. Retornamos ao barco e logo fomos nos acomodar para dormir. Li dois capítulos de Capitão de Longo Curso, do Jorge Amado e dormimos deliciosamente.

 

05/07/2006

Acordei cedo e logo nos levantamos. Pegamos a barca das 7:30 hs para Porto Seguro e o Tate nos pegou para tomarmos café juntos numa pousada. Depois fomos para Arraial D’Ajuda. Andando pela avenida principal, nos lembrávamos muito de Ilhabela. No meio do caminho paramos no Eco Parque, para marcar para visitar uma criação de corais que amigos da Taís de Cumuruxatiba estão fazendo no local. Começamos a conversar com a oceanógrafa Renata e em pouco tempo achávamos conhecidos em comum: Ana e Danilo de Ilhabela! A Ana dá aula no colégio onde as crianças estudam e o simpático Danilo é bombeiro em São Sebastião e sempre conversamos quando nos encontramos! Coincidências, coincidências... Marcamos a visita para amanhã de manhã e seguimos para o centro histórico de Arraial D’Ajuda. Outro lindo lugar, com muita história, várias lojinhas e bons restaurantes. Paramos no restaurante de uma amiga do Tate, simpática senhora baiana e mais uma vez contamos um pouco da nossa viagem. Depois fomos na praia de Pitinga, muito bonita e com o mar maravilhoso. Em seguida fomos na praia do Parracho. Isso mesmo, uma praia com o nome de nosso amigo! As praias de Arraial são maravilhosas e amanhã pretendemos ir tomar um banho de mar em alguma delas. O comércio em Arraial é bem estruturado e as construções são muito parecidas com Ilhabela. Passamos num loteamento da família do Tate que me lembrou demais a Cocaia! Acho que estamos com saudades da Ilha (fáceis de matar por aqui!). Retornamos para a marina e tomamos um banho de piscina. Resolvemos levar roupa para lavar em Porto Seguro e no caminho encontramos o Sérgio Pessoa. Ele ofereceu para lavar nossas roupas na marina e logo um fnucionário as pegava e levava para o hotel. Almoçamos num ótimo restaurante por quilo e comi demais. É duro resistir ao vatapá, caruru e à boa comida do local. Comprei algumas coisas que precisávamos e assistimos o primeiro tempo de Portugal e França no barbeiro, cortando o cabelo do Jonas e o meu. Torcíamos para Portugal, mas acabou dando França. É triste ver o time de Portugal lutando até o último minuto e criando reais jogadas de gol com tanta raça e ter visto o pobrezinho futebol brasileiro perdendo de um a zero atrasando bolas com quarenta minutos do segundo tempo como se o placar fosse favorável ao Brasil. Parabéns a Portugal: perdeu lutando até o fim! Encerrado o jogo, fizemos diários no barco e nos arrumamos para ir à Porto novamente. Lá encontramos o Tate que iria nos levar para comer um acarajé. Fomos no acarajé da Dinda, que é ótimo e barato. Comemos um acarajé no prato (a Carol não quis) e a baiana colocou um pouco de pimenta, como pedimos. O Jonas pegou a pimenta sem misturar muito e ardeu de verdade! Sorte foi a chegada rápida de uma pepsi que havíamos pedido. Após o acarajé, passeamos um pouco de carro e depois encontrávamos a irmã do Tate, Fernanda e um amigo dele, o Elton. Fomos tomar um caldo, prato típico baiano. Tomei um caldo de bugigão e a Carol tomou um sururu! Deliciosos! Os dois são feitos com moluscos encontrados nas praias. O Jonas, com medo da pimenta, não quis o caldo. Mas acabou provando do meu e gostou também. Retornamos para o barco e fomos direto para a cama, onde li um capítulo do livro de Jorge Amado.

 

06/07/2006

Acordei bem cedo e comecei a colocar em ordem nossos diários. Chamei as crianças cedo e, após um rápido café da manhã, saímos para o Eco Parque. Pegamos uma perua e chegamos lá antes da hora. Fomos dar uma olhada na praia que fica na frente dele. É muito linda! Os planos eram ter ido a pé pela praia (cerca de 6 quilômetros), mas como saímos atrasados, não deu. Na praia, vimos muitos corais mortos e quebrados, provavelmente em função de mar agitado. Voltamos para o Eco Parque e entramos para conhecer o projeto Coral Vivo. O Romário de Cumuruxatiba nos recebeu na porta e nos levou pelo lindo parque aquático até o local do projeto. Ele começou a explicar o trabalho deles: pesquisar a reprodução de corais, fazer com que ocorra em tanques e devolver ao mar os corais reproduzidos em cativeiro. Ele mostrou para as crianças os tanques com cada fase da reprodução e contou-nos que eles têm se preocupado muito com a degradação dos recifes de coral da região, em virtude deles serem pisados nas visitas turísticas aos recifes na maré baixa. O coral leva um ano para crescer um centímetro! Renata, que está cuidando do projeto atualmente, chegou e foi contando muitas coisas sobre os corais também. Uma pena é que a água está turva e não fica legal mergulhar nos recifes. Mas, se tudo der certo, voltaremos no verão com água limpa. Saímos de lá e pegamos outra perua para Trancoso. Fica um pouco longe dali e dá quase uma hora de perua, mas valeu a pena. A vila é lindíssima! Muito simples, mas muito bela. Pequenas casas coloridas circundam a linda igrejinha branca no que chamam de “quadrado”, que é o antigo centro histórico de colonização do lugar. Por trás da igreja, que fica no alto da falésia, uma maravilhosa vista das praias se descortinava. Tomamos uma água de coco e comemos um abacaxi geladinho, que as crianças adoraram. O povo baiano do local parece ser muito bom. A senhora que nos vendeu o abacaxi, quando a Carol acidentalmente deixou cair seu pedaço, que era o último do segundo abacaxi, pegou um pedaço que ela tinha reservado para o almoço dela e deu para a Carol! Almoçamos no ótimo “Portinha”, que também tem em Trancoso. Em seguida descemos até a praia. Maravilhosa! Sem duvida a praia mais bonita da Bahia até agora e uma das mais lindas que já vi. Um rio desaguava no mar, fazendo curvas atrás da praia. O sol baiano aquecia nossos corpos e uma deliciosa brisa vinha do mar. Uma casinha de madeira e um barco recém pintado enfeitavam o local. Realmente belíssimo e delicioso! Deitei na toalha e em pouco tempo estava dormindo na praia. Devo ter dormido uma hora, enquanto as crianças faziam castelos de areia na beira do rio. Tomamos um banho de mar e outro de rio. Curtimos mais um pouco e bati muitas fotos. Ao retornarmos, demos a sorte de pegar o ônibus que passava na praia e uma hora depois estávamos na marina. Tínhamos marcado com o Tate à noite, mas eu estava tão cansado que liguei para desmarcar. Ficamos batendo papo com a Denise e o Dadi e depois fomos conhecer o barco do Carlos e da Andréa. Lindíssimo e muito forte, pronto para qualquer mar. Voltamos ao barco e continuei a colocar as coisas em ordem, pois talvez saiamos sábado em direção à Ilhéus. Após uma sopa de feijão no jantar, o sono bateu forte em todos e logo dormimos.

 

07/07/2006

Às seis da manhã eu já estava de pé. Pensava em sair no sábado para Ilhéus e tinha muita coisa para arrumar. Coloquei todos os diários e fotos na internet, fiz os pagamentos do começo do mês através do computador e tomamos nosso café. Logo fomos para Porto Seguro para buscar meus óculos que estavam prontos (que alívio!). Além dos óculos, aproveitei para fazer um depósito que precisava, compramos uma papete nova para a Carol, pois a dela arrebentou, e fizemos as compras de supermercado para a próxima travessia. Retornamos ao barco carregado de compras e as guardamos. O Jonas e a Carol ficaram olhando o Carlos tentar pegar uns robalinhos no píer e depois saímos para almoçar com o Dadi, Denise, Carlos e Andréa. Fomos até o delicioso “Portinha” e lá encontramos o Tate, que ficou conversando conosco. Hoje foi dia de comida baiana e eu comi uma moqueca de lula fantástica lá. Se eu ficar muito tempo na Bahia, vou chegar a cem quilos rapidamente! Depois do almoço saímos para tomar um café e andamos um pouco até um shopping. Lá tomamos um ótimo capuccino, como eu não tomava desde Parati. Nessas horas dá uma saudade do Ponto das Letras em Ilhabela! Voltamos caminhando pelas lojinhas, parando em várias delas. Comprei uma peneira para fazer tapioca de melhor qualidade para as crianças e retornamos ao barco. Nesse ponto eu já havia resolvido ficar mais um dia em Porto Seguro. Devemos sair domingo, para chegar na segunda em Ilhéus. As crianças brincaram um pouco na piscina e escutamos música ao vivo na marina. Escutamos um pouco e seguimos para Porto Seguro para pegar umas bandanas que eu havia mandado fazer. Ficaram muito legais! Na volta à marina, convidamos o Carlos e a Andréa para conhecerem o Fandango. Muito simpáticos, eles assinaram nosso livro de visitas e conversamos bastante na nossa “sala”. Fomos tomar um delicioso banho de água abundante e quente e conversamos com alguns portugueses que conhecêramos ontem. Conversamos bastante e ficamos sabendo que os problemas portugueses não diferem muito dos nossos: corrupção destruindo o país e saúde pública em decadência. Eles ainda têm segurança e educação pública, mas se não tomarem cuidado, serão os próximos itens a serem abandonados pelo governo. Retornamos ao Fandango, beliscamos algumas coisinhas e li para as crianças o livro de Jorge Amado.

 

08/07/2006

Acordamos cedo, tomamos o café da manhã e fizemos nossos diários. Saímos do hotel em direção à praia do Apaga-Fogo, que fica ao lado. A praia é muito bonita e os recifes na frente do resort são lindíssimos. Tentamos mergulhar, mas a água ainda estava turva. Encontramos o Rui e sua esposa, os portugueses com quem falamos ontem. Conversamos um pouco e lhes desejamos boa-viagem, pois estariam voltando para Portugal à tarde. Fomos andando até Arraial d’Ajuda pela praia, refazendo um caminho que a Mônica fez quando era jovem e tinha vindo para cá. Lembro muito dela falando de sua caminhada e da beleza da praia. Eu queria que as crianças fizessem o mesmo caminho. Paramos no meio do caminho para descansar um pouco, tomar um banho de mar e fazer castelos de areia. Continuamos andando, chegamos em Arraial e subimos os muitos degraus até o centro. Almoçamos no “Portinha” de Arraial e lá encontramos a Renata, do Coral Vivo, que almoçava com a avó. Nos despedimos delas e voltamos para Porto Seguro de ônibus. Seguimos direto para o “Memorial dos 500 Anos” e vimos a exposição, que é muito bonita. Fomos até a réplica da caravela e nos sentimos os próprios “Cabrais” dentro dela. Voltamos a pé, pois os ônibus custaram a aparecer. Andando pelo centro compramos os presentes para o Dadi e Andréa, que fazem aniversário amanhã e depois respectivamente. Voltamos ao barco, acessamos internet na marina para ver a previsão de tempo e nossos e-mail’s e jantamos uma sopinha. Detectei um barulho de água e vi que havia um vazamento de água doce na bomba do banheiro. Como era tarde para mexer com isso, fomos todos dormir, com as pernas doendo de tanto andar.

 

09/07/2006

Acordei as 7 e logo tentei arrumar bomba de água. Desmontei-a e como o problema era um furo no diafragma que não tenho de reserva, não deu para consertá-la. Tampei a saída de água e coloquei a bomba desmontada num saco para tentar arrumar o diafragma em alguma loja. Aproveite e troquei óleo motor, completamos tanque principal de diesel com os bujões reservas, completamos tanque de água que havia vazado e tomamos café da manhã. Fiz a navegação para o Porto de Ilhéus, pois pretendíamos sair no começo da tarde. Recebemos a visita do Tate, nosso “anjo da guarda” em Porto Seguro e a quem eu queria muito mostrar o barco e agradecer pessoalmente antes de zarparmos. Com ele veio o Elton e ambos assinaram nosso livro de visitas. Fui até Porto Seguro comprar diesel com ele. Ainda bem que estávamos com o carro dele, pois precisamos ir a três postos até achar o diesel. Voltei ao barco e desistimos de sair em virtude do nordeste que entrou, do motim da tripulação que estava falando em afundar a caravela dos 500 anos na entrada da barra para barco nenhum entrar e sair e do aniversário do Dadi, que estará fazendo 50 anos amanhã. Aproveitei e dormi à tarde enquanto as crianças brincavam na piscina. O dia estava lindíssimo, com muito sol, mas eu estava cansado e com sono. Vimos a final da Copa do Mundo e fizemos nosso jantar no barco. Após o jantar, fomos para a varanda do hotel junto com a tripulação do Jade (Dadi, Denise e Kika) e do Scorpion (Carlos e Andréa) tomar um vinho, conversar e jogar Imagem e Ação. Foi muito engraçado! Nos divertimos por algumas horas até chegar a meia-noite, hora de dar parabéns ao Dadi! Ficamos ainda jogando e brincando até a uma e meia da manhã. Se Porto Seguro foi tão especial nessa viagem e as crianças não queriam ir embora, muito se deve aos amigos que lá reencontramos e conhecemos e que cada vez se tornam mais especiais em nossas vidas.